O espaço intratonal: transcendendo o cromatismo bem temperado
Por Roberto Luis Castro, educador musical e construtor de instrumentos.
O trabalho de discriminação auditiva reconhecendo e utilizando a gama de sons existentes entre o tom e o semitom pode ser feito em qualquer idade. Aliás, quanto mais cedo melhor.
Embora este artigo utilize uma linguagem às vezes um tanto técnica, abordarei um assunto que é muito simples na sua essência. Trata-se da possibilidade de trabalhar divisões menores dos intervalos musicais através do uso de um material construído com essa finalidade: o metalofone com as barras sonoras móveis de mesmo comprimento, largura e espessura, afinado de tal forma que produzem sons intermediários entre os tons fixos da escala musical, para atividades de sensorialidade e desenvolvimento auditivo musical.
CONCEITOS INICIAIS
A vivência do espaço pancromático, compreendido pelas distâncias mensuráveis entre os semitons, como o quarto de tom (metade do semitom) tende a libertar o ouvido musical do temperamento da escala, com sua divisão logarítmica de intervalos. Quer ampliando a nossa capacidade auditiva, quer nos permitindo também compreender divisões diferentes de intervalos presentes em sistemas musicais de outras culturas.
1 Tom
1/2 Tom (semitom: metade do tom)
1/4 Tom (quarto de tom, metade do semitom)
…
(Infinidade de divisões menores do tom)
As relações entre sons padronizadas nas teclas pretas e brancas dos teclados musicais, reproduzirão sempre o padrão equalizado da escala temperada, de 7 tons e 5 semitons cromáticos, não obstante outras culturas do mundo sistematizarem a prática de inúmeras divisões diferentes dos intervalos musicais.
Ouvir com liberdade pressupõe aceitar outras concepções diferentes da linha melódica, implicando também em campos harmônicos diferenciados ou estruturas modais, com ou sem um bordão de referência (pedal de apoio).
O CARRILHÃO INTRATONAL E O ESPAÇO PANCROMÁTICO
O Carrilhão Intratonal desenvolvido por Willems® e atualmente difundido pelas Editions Pro Musica Suisse, é um metalofone que possui uma gama de intervalos ainda menores que os quartos de tom. Embora "carrilhão" originalmente se refira a "sinos", esse termo é frequentemente empregado na lutheria de instrumentos melódicos percussivos (ex: "jogo de sinos"). Todas as barras sonoras deste instrumento possuem o mesmo comprimento, largura e espessura, desafiando a nossa percepção auditiva a se referenciar única e exclusivamente pelo critério de altura tonal.
A disposição das teclas na caixa acústica assume uma linearidade que não corresponde ao design do piano e outros instrumentos teclados, compostos por duas seções intercaladas de notas que compõem a escala cromática. Neste equipamento, é como se teclas pretas e brancas se colocassem lado a lado, o que em si já se constitui em mais um desafio para o reconhecimento auditivo dos sons musicais.
Veja O Carillon Intratonal no catálogo das Editions Pro Musica:
Dada a dificuldade em importar esse equipamento, disponível quase que exclusivamente na Europa, e ainda a complexidade do seu uso (embora os princípios sejam de fácil assimilação, os nossos ouvidos não estão bem treinados para perceber intervalos menores que o semitom) buscamos alternativas no nível local.
A partir de experiência própria em contato com a Pedagogia Willems® de educação musical, quer por meio de diversos cursos, quer na minha formação de Licenciatura em Música, ou em eventos locais promovidos pela l’Association Internationale des Professeurs d’Éducation musicale méthode Edgar Willems, atualmente Fédération Internationale Willems, pude desenvolver alguns materiais sonoros visando auxiliar na prática da sensorialidade auditiva, consoante os princípios desta pedagogia.
O METALOFONE EM QUARTOS DE TOM: ÓTIMO RECURSO E CUSTO ACESSÍVEL
Um material bem mais acessível (inspirado também em um exemplar de 10 teclas exibido em 2009 durante o Congresso Internacional Willems, em Salvador) é o Metalofone em Quartos de Tom MQT11 do Ateliê Construindo O Som®.
O instrumento inclui 11 barras sonoras móveis numeradas no verso e afinadas por quartos de tom do Sol5 ao Dó6.
Demonstração do Metalofone em Quartos de Tom marca Construindo O Som®
O Metalofone em Quartos de Tom MQT11 é uma das minhas contribuições à abordagem da sensorialidade auditiva, mas não apenas isso. Como instrumento melódico funcional de barras intercambiáveis, ele pode atender a diversas outras finalidades, inclusive propiciando novas descobertas didáticas. Com este material podemos perceber e conscientizar diversos intervalos musicais, sendo o menor deles o quarto de tom.
Quem está familiarizado com a metodologia proposta por Edgar Willems não precisará de muitas explicações adicionais.
Mesmo quem não conhece ainda o Método Willems e seus princípios pedagógicos, terá muito a ganhar, através desse recurso pedagógico.
No Brasil, a referência maior sobre a Pedagogia Willems® é a professora Carmen Maria Mettig Rocha, que fundou e mantêm o Instituto de Educação Musical, em Salvador, Bahia.
A propósito, leia o artigo Desenvolvimento do Ouvido Sensorial: Alguns dados sobre o desenvolvimento do ouvido sensorial no Método Willems, de Carmen Mettig Rocha, em nosso site:
Para mais informações, contate o Instituto de Educação Musical — IEM Site oficial: https://www.musicaiem.com.br/
Instagram: @iem.musica
O Ateliê Construindo O Som® tem sua história estreitamente vinculada ao trabalho do IEM, cuja mentora sempre incentivou minha produção, adotando os instrumentos e materiais específicos que confecciono para o desenvolvimento auditivo.
Essa parceria antecede até mesmo a criação do próprio Instituto.
Por isso, atualmente, a página principal do site da loja destaca numa seção especial os recursos destinados à aplicação no Método Willems® de Educação Musical.
Visite e conheça:
Acesse o MQT11 na nossa loja virtual:
Leia mais sobre os nossos metalofones intratonais aqui:
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